Queria ser escritor, mas
escrever eu não sabia. Queria ser professor, mas o que ensinar não havia. Tentei
então ser escultor, mas minhas obras ninguém entendia. Por fim, restou-me o
amor, que há muito eu não vivia.
Lembrei-me então da dor e da
mágoa que ele trazia, assim sentei-me ao canto e logo me veio uma melodia.
Melosa e suave, mas que tristes recordações trazia. Então, veja só que emoção,
encontrei minha vocação: depois de muito tentar, percebi que sabia compor uma
linda canção.
Cantei num barzinho e todo mundo
gostou, logo ouvi de longe, baixinho: "olha só meu sinhô, veja só que bom
compositô". Larguei minha vida e lancei-me na estrada, não passou muito
tempo e minha melodia se encontrava nas paradas.
Era autógrafo, era fã, era coisa
que não acabava mais, talvez não fosse isso que eu buscasse tempos atrás.
Já cansado e abatido, encontrei
um velho amigo: um fazendeiro muito bem-sucedido. Olhei com atenção e vi sua
expressão: suave e despreocupado, com muita felicidade no coração. Que inveja
que senti, tenho que admitir; imagine se fosse eu que estivesse ali? Não foi
nem um dia e logo me veio a euforia: larguei tudo outra vez com convicção, estava
decidido a voltar para o sertão.
Chegando lá meu amigo, você nem
vai acreditar, estava tudo tranquilo e nenhum autógrafo teria de dar. Sabia
agora que ali era minha vida e dali nunca devia ter partido, sabia agora que
dali jamais haveria de mudar.