Conto: A Menina e o Morangueiro. Parte II

  O jovem cavaleiro logo caiu em si, e entendeu que esta era a bruxa que enfeitiçara Margarette. Sentiu uma incontrolável vontade de atravessar sua espada pelo corpo da bruxa, mas acalmou-se e continuou espiando.


https://lh4.googleusercontent.com/-XiaP-o2MX7A/TjiN85SY6sI/AAAAAAAACVw/TPgJCxPh3nM/Sem%252520T%2525C3%2525ADtulo-2.png  Passaram-se alguns minutos, e a bruxa apagou a fogueira e foi para casa. O jovem cavaleiro a seguiu, tentando evitar qualquer tipo de barulho. Caminharam poucos metros, até que chegaram à velha casa. Margarette já estava em sua forma humana, e olhava atentamente pela janela, à procura de seu companheiro.

— Esperando alguém, minha querida? — Perguntou a bruxa, em tom sarcástico.

— Não, minha senhora. — Respondeu-lhe Margarette, tão triste como uma noite sem luar.

— Você continua tão bela como sempre, como é possível? — A bruxa segurava uma das mechas dos longos cabelos de Margarette. — Será minha prisioneira por muito tempo, acredito. As outras pobres donzelas... Suas belas feições eram tão passageiras que me arrependo de tê-las feito minhas prisioneiras. Um feitiço tão complicado como este, de transferência de beleza e revitalização, não pode ser desperdiçado com qualquer uma, não é mesmo? — A bruxa parecia pensativa, como se lembrasse de cada uma de suas vítimas.

— Sim, minha senhora. — Respondeu Margarette, ainda mais triste.

  Enquanto a bruxa tagarelava nos ouvidos de Margarette, o jovem cavaleiro espreitava ao redor da casa, preparando-se para entrar e atacar. Estava agachado em baixo do peitoril da janela, ouvindo a conversa. Foi então que tudo ficou em silêncio, apenas os sons da floresta eram perceptíveis. Sentiu um arrepio em sua espinha, olhou para trás e viu algo como fumaça se formando atrás dele. Nunca havia visto algo assim, mas logo imaginou o que seria: bruxaria. Retirou sua espada da bainha e a pôs em ordem de batalha, mas a bruxa não o atacou.


— Ora, vejam só, Margarette fez um amigo, e da realeza. Esplêndido! — Provocou.

— Diga como desfazer o feitiço e poupo sua vida, bruxa! — Vociferou o jovem cavaleiro.

— Não há como desfazer um feitiço como este, seu tolo. — A bruxa ria e apontava para o cavaleiro, como se quisesse o insultar, mas não tivesse folego para tal.

— Apesar de ter dito que pouparia minha vida, não farei o mesmo por você! — A bruxa dizia palavras em língua antiga, e apontava suas mãos para o cavaleiro, que ajoelhou-se involuntariamente. — Este feitiço também não pode ser desfeito!

  Do chão, brotaram raízes negras que se enrolaram em torno dos pés do cavaleiro, que lutava contra elas. As raízes subiam pelo seu corpo, apertando-o. Na tentativa de se salvar, o cavaleiro enfiou sua espada entre cordões que prendiam o vestido do bruxa, por baixo de sua capa negra. Puxou-a para sua direção, o que a fez cair e encostar seu peito ao do cavaleiro. Feito isso, as raízes que subiam através do corpo do cavaleiro, também começaram a subir pelo da bruxa, o que a mataria junto dele.

  Margarette olhava para o céu, que começava a mostrar rastros de um Sol que estava para nascer. Então começara sua transformação de volta à um morangueiro. Transformação esta que deveria ser rápida, mas desta vez algo estava acontecendo: Margarette não estava mais transformando-se, era meio mulher, meio morangueiro. A bruxa a olhava espantada, como se precisasse fazer algo depressa.

  O cavaleiro percebeu o que acontecera: Margarette não se transformava pois a bruxa não invocava seu feitiço por sua canção.

  A bruxa, ofegante, retirava as raízes que tapavam sua boca com os dentes, e tentava cantar. Mas as raízes logo voltavam a tapar seu rosto. O jovem cavaleiro aproveitou o momento em que a bruxa estava ocupada com as raízes, e atravessou-a com sua espada, com muita dificuldade, pois as raízes o impediam.

  Em um grito ensurdecedor, a bruxa olhava para o cavaleiro como se rogasse mil pragas para ele. Então, a bruxa começou a mudar: sua pele voltava a ser velha como antes, mas dessa vez muito mais velha, quase como um defunto. Seus olhos desapareceram, como se seu crânio os tivesse engolido. Seus cabelos acinzentaram-se em segundos, e então toda a bruxa transformou-se em pó, junto das raízes.

  Foi aí que algo mais aconteceu: Do pó, brotavam pequenas raízes verdes, que logo se transformavam em pequenos morangueiros, tão delicados e perfeitos quanto o de Margarette. Logo, todo o redor da casa estava tomado por morangueiros, que exalavam um perfume tão suave que todo o medo e fúria de Margarette e seu cavaleiro transformaram-se em paz. Os dois logo perceberam que estes eram os morangueiros de todas as mulheres que a bruxa havia enfeitiçado, e que agora festejavam como se todo o mundo fosse tomado por alegria.

  Margarette voltava a sua forma humana, mas seu rosto não transmitia tristeza ou medo, mas uma felicidade tão pura, que pareceu que toda a floresta absorveu este sentimento.

  Os dois sentaram-se em frente à porta da casa, nas pedras que formavam caminho de entrada. Não disseram nada, apenas agradeceram-se como um belo beijo banhado por raios de Sol. O cavaleiro pegou a mão de Margarette e, com uma folha de um dos morangueiros que estavam ao seu redor, fez uma pequena aliança no dedo dela. Margarette logo entendeu, e ainda sem dizer nada, deu-lhe outro beijo, representando que a partir daquele momento, ficariam juntos para sempre, e felizes.

FIM!

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